SENADO ROMANO RECUSA DECRETAR
JESUS CRISTO COMO DIVINO
Alguns escritos dos pais da igreja primitiva nos
relatam que Tibério César, ao tomar conhecimento, por cartas, de oficiais
romanos na Palestina, e por Pôncio Pilatos, acerca dos extraordinários feitos
do Mestre Divino, e dos seus milagres, morte, ressurreição e ascensão aos céus,
e de como Ele foi reconhecido como Deus filho por milhares; tendendo o próprio
imperador para essa certeza, aconselhou-se ele sobre o caso com todo o senado
de Roma, e propôs que Cristo fosse adorado como Deus. Os senadores, não
concordando com a proposta, recusaram-na porque, contrariando a lei dos
romanos, Ele foi consagrado como Deus (disseram eles), antes que o senado de
Roma o tivesse aprovado por decreto. Assim os vaidosos senadores (satisfeitos
sob o reinado do imperador e recusando pacífico Rei de glória, Filho de Deus)
foram posteriormente atormentados e apanhados em armadilhas pela sua injusta
recusa, exatamente do modo que eles escolheram. Pois como preferiram o
imperador e rejeitaram o Cristo, assim a justa permissão Divina atiçou contra
eles os vaidosos senadores de Roma, seus próprios imperadores, de tal forma que
foram eles quase todos destruídos juntamente com suas famílias, e também a
população da cidade era constantemente afligida, e isso pelo espaço de quase
trezentos anos (pelos seus cruéis e déspotas imperadores).
O próprio imperador Tibério, que, durante grande
parte do seu reinado, foi um príncipe discreto e tolerável, tornou-se depois um
tirano severo e cruel, que não favoreceu nem mesmo a própria mãe, nem poupou os
seus sobrinhos ou os príncipes da cidade que eram seus conselheiros pessoais,
preservando a vida de apenas dois ou três de vinte. Suetônio relata que Tibério
era tão duro por natureza e tão tirano que num único dia ele registrou o nome
de vinte pessoas que deveriam ser conduzidas ao local da execução. Durante o
seu reinado, Poncio Pilatos, sob o qual Cristo fora crucificado, foi preso e
enviado a Roma, deposto de seus cargos, e depois banido da cidade para Vienne,
em Dauphiny, onde acabou se matando. O velho rei Agripa também foi atirado na
prisão por Tibério, mas depois de muita penúria foi-lhe restituída a
liberdade. Depois da morte do imperador Tibério; sucederam-se
Calígu1a, Cláudio e Nero. Esses três últimos imperadores foram crudelíssimos, e
igualmente flagelos do senado e do povo de Roma. O primeiro ordenou que ele
mesmo fosse adorado como deus, que se erigissem templos em seu nome. Costumava
sentar-se no templo entre os deuses, exigindo que imagens dele fossem expostas
em todos os templos, inclusive no de Jerusalém. Tal fato causou grande confusão
entre os judeus, que ante o Cristo flagelado haviam bradado: “Só temo um rei
que é César”; e então a abominação da desolação de que se fala no evangelho
começou a se estabelecer no lugar santo. A crueldade do seu caráter e o
descontentamento com seu próprio povo, os romanos, eram tais que ele dizia
abertamente que desejava que todo o povo de Roma tivesse apenas um pescoço,
para que ele, a seu bel prazer, pudesse cortá-lo. Por esse mesmo Calígula,
Herodes Antipas, que assassinou o profeta João Baptista e zombou do Cristo de
Deus, foi condenado ao exílio perpétuo onde morreu miseravelmente. Também o
sumo sacerdote judeu Caifás, que com malícia interrogou e condenou o Mestre
Divino, foi na mesma época removido do cargo de sumo sacerdote.
A ferocidade descontrolada de Calígula não cessou, não
foi extirpada pelas mãos do tribuno e de outros cúmplices que o mataram no
quarto ano do seu reinado. Pois depois de sua morte foram encontrados no seu
gabinete dois livrinhos, um intitulado “A Espada”, o outro, “O Punhal”.
Neles estavam escritos os nomes dos senadores e nobres de Roma que ele
pretendia levar à morte. Além disso, foi encontrado um cofre no qual estavam
guardados diversos tipos de veneno em vários frascos de vidro, com a finalidade
de destruir um espantoso número de pessoas. Esses venenos ao serem lançados ao
mar, causaram uma grande mortandade de peixes. Dos outros imperadores que o
sucederam, Nero foi o mais insano e cruel de todos.